quarta-feira, 12 de junho de 2019

A propósito da Erva-das-lamparinas


A propósito da Erva-das-lamparinas

Depois de alguns anos à procura, finalmente encontrei no passado dia 2 de junho uma quinta onde o seu proprietário possui uma pequena plantação de erva-das-lamparinas ou erva-dos-pavios.

Desde muito pequeno conheço a planta que era cultivada por uma tia minha, Diamantina de Braga, na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo. Há cerca de seis anos, voltei a encontrar a planta na Ribeira das Tainhas na casa de uma pessoa conhecida que me prometeu oferecer-me um pé quando chegasse a altura boa para as plantações.

Como a pessoa, entretanto, faleceu recorri à minha prima Teresinha Braga que morava na casa que outrora tinha pertencido à minha tia e a resposta foi a de que a erva teria desaparecido.

O outro contato com a planta deu-se em casa dos meus avós Manuel Soares e Maria dos Santos Verdadeiro que desde 1956 recebiam no dia 28 de cada mês a Sagrada Família. Para iluminar o quarto onde estava o nicho com a Sagrada Família, eram usados como pavios numa lamparina de azeite, os cálices da erva-das-lamparinas, depois de secos.

Este ano, depois da visita referida, comecei a investigação acerca do nome da planta ou plantas usadas como pavios, a sua origem e para que outros fins pode ser utilizada..

A primeira conclusão a que cheguei é a de que são usadas como pavio, mais do que uma espécie do género Ballota, nomeadamente a Ballota nigra que existe na Europa, no Sudoeste da Ásia e na Região Mediterrânica e terá sido introduzida nos Açores e a Ballota hirsuta que também existe na Região Mediterrânica e foi introduzida nos Açores.

Nos Açores, existe uma subespécie da Ballota nigra, a Ballota nigra subsp. uncinata cuja presença já é referida por Ruy Telles Palhinha no seu Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores, publicado em 1966 pela Sociedade de Estudos Açorianos Afonso Chaves.

A Ballota nigra, que pertence à família das Lamiaceae é conhecida cá pelo nome de marroio-negro, é usada para fins medicinais em vários locais do mundo e também nos Açores.

Yolanda Corsepius, no seu livro Plantas Medicinais dos Açores, editado em 1997, escreve que esta planta, que naturalmente pode ser encontrada junto a muros e sebes, tem as seguintes propriedades e indicações: “calmante-insónias, nervosismo; antiespasmódica; colerética.”

Maria Manuela Magalhães da Silva, num trabalho de fim de curso, apresentado na Universidade dos Açores em 1992, por seu lado escreve que o marroio-negro nos Açores para além de cultivado pode ser encontrado em depósitos pedregosos.

Quanto ao seu uso, Maria Manuela Silva diz que é “calmante nas perturbações de origem nervosa (depressão, enxaqueca, neurastenia, estados ansiosos e outras afeções nervosas ou psíquicas. É também um diaforético. Em aplicações externas, as compressas de marroio aliviam as dores reumatismais”.

Nos Açores. Também, existe o marroio-branco (Marrubium vulgare) que consta da lista das plantas usadas na medicina popular publicada no número 17 do Boletim da Comissão Reguladora dos cerais do Arquipélago dos Açores, relativo ao ano de 1953. De acordo com o autor do trabalho, Silvano Pereira, aquela planta também denominada marrolho aparecia sobretudo “nos matos e incultos”, sendo “a infusão das suas folhas…aconselhada para combater a icterícia”.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores,31850, 13 de junho de 2019, p.16)

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