sábado, 29 de junho de 2019

Os rostos do Estado Novo no seu fim


Correio dos Açores, 26 de setembro de 1973

Um picopedrense em VIla Franca



Desonhecemos as razões, mas não é de hoje as ligações existentes entre Vila Franca do Campo e o Pico da Pedra. No passado havia transumância de gado bovino entre a freguesia do Pico da Pedra e a da Ribeira Seca de Vila Franca do Campo.

O que agora divulgamos é o caso de um picopedrense que foi acabar os seus dias em Vila Franca do Campo.
Fonte: "Encontro de Gerações", Editorial Ilha Nova, julho de 2004

TB, 30 de junho de 2019

sexta-feira, 14 de junho de 2019

PERCURSO PEDESTRE “PRAIA- LAGOA DO FOGO”


PERCURSO PEDESTRE “PRAIA- LAGOA DO FOGO”

Ponto de Partida e de Chegada- Praia de Água d’Alto

Extensão: 12,5 km

Duração média: 5 h


O percurso tem início junto à ponte da Ribeira da Praia. Desta ponte tem-se uma magnífica vista do lugar da Praia, pequeno povoado que pelas suas características foi considerado “Lugar Classificado”. Nesta localidade, a EDA- Electricidade dos Açores, em sintonia com a Câmara Municipal de Vila Franca e com o objectivo de homenagear o pioneiro da electrificação nos Açores, o Eng. José Cordeiro, recuperou o edifício da central conhecida por “Fábrica da Praia”, transformando-a em Museu.

O segundo posto localiza-se junto às ruinas de uma antiga fábrica de desfibração de espadana. A espadana ou linho da Nova Zelândia, também conhecida por tabua (Phormium tenax), é uma planta oriunda da Nova Zelândia que foi introduzida em S.Miguel, em 1828, por Francisco Lopes Amorim.. Porém, a sua exploração industrial ter-se-á iniciado depois de 1880, ano em que José Bensaúde e José Jácome Correia adquiriram uma máquina para a sua desfibração e a instalaram em Ponta Delgada.

O terceiro ponto de paragem, localiza-se junto a uma pequena barragem e na origem do canal de derivação da central Nova. Esta central começou a produzir em 1927 com uma potência de “ 600 cavalos, aproveitando um caudal de 300 litros por segundo e uma altura de queda, artificial, de 290 metros”.Neste posto a vegetação é bastante baixa, com predomínio para a urze (Erica azorica) e para a queiró (Calluna vulgaris). Aqui, é possível observarmos algumas aves, como o tentilhão (Fringilla coelebs moreletti), o milhafre (Buteo buteo rothschildi) e a álveola (Motacilla cinerea patriciae).

O último posto localiza-se nas margens da lagoa do Fogo, uma das mais belas lagoas açorianas. A lagoa do Fogo, situada à altitude de cerca de 610 metros, ocupa o fundo da caldeira do Vulcão de Água de Pau, a qual possui 3 km de diâmetro e 100 a 300 m de profundidade e foi formada há cerca de 15 mil anos. A actual configuração da caldeira terá surgido há cerca de 5 mil anos e a última erupção ocorreu em 1563.

A Lagoa do Fogo possui uma área aproximada de 1,5 km2 e uma profundidade máxima de 30 metros, sendo o seu comprimento máximo de 2,4 km e a largura máxima de 1,2 km.Nas suas águas vivem, entre outras, as seguintes espécies piscícolas: a carpa(Cyprinos carpio) e a truta arco-íris(Salmo irideos), esta última introduzida pela primeira vez, em 1941, pela Junta Geral do Distrito de Ponta Delgada.

Teófilo Braga
Terra Nostra, 275, 9 de dezembro de 2005

quarta-feira, 12 de junho de 2019

A propósito da Erva-das-lamparinas


A propósito da Erva-das-lamparinas

Depois de alguns anos à procura, finalmente encontrei no passado dia 2 de junho uma quinta onde o seu proprietário possui uma pequena plantação de erva-das-lamparinas ou erva-dos-pavios.

Desde muito pequeno conheço a planta que era cultivada por uma tia minha, Diamantina de Braga, na Ribeira Seca de Vila Franca do Campo. Há cerca de seis anos, voltei a encontrar a planta na Ribeira das Tainhas na casa de uma pessoa conhecida que me prometeu oferecer-me um pé quando chegasse a altura boa para as plantações.

Como a pessoa, entretanto, faleceu recorri à minha prima Teresinha Braga que morava na casa que outrora tinha pertencido à minha tia e a resposta foi a de que a erva teria desaparecido.

O outro contato com a planta deu-se em casa dos meus avós Manuel Soares e Maria dos Santos Verdadeiro que desde 1956 recebiam no dia 28 de cada mês a Sagrada Família. Para iluminar o quarto onde estava o nicho com a Sagrada Família, eram usados como pavios numa lamparina de azeite, os cálices da erva-das-lamparinas, depois de secos.

Este ano, depois da visita referida, comecei a investigação acerca do nome da planta ou plantas usadas como pavios, a sua origem e para que outros fins pode ser utilizada..

A primeira conclusão a que cheguei é a de que são usadas como pavio, mais do que uma espécie do género Ballota, nomeadamente a Ballota nigra que existe na Europa, no Sudoeste da Ásia e na Região Mediterrânica e terá sido introduzida nos Açores e a Ballota hirsuta que também existe na Região Mediterrânica e foi introduzida nos Açores.

Nos Açores, existe uma subespécie da Ballota nigra, a Ballota nigra subsp. uncinata cuja presença já é referida por Ruy Telles Palhinha no seu Catálogo das Plantas Vasculares dos Açores, publicado em 1966 pela Sociedade de Estudos Açorianos Afonso Chaves.

A Ballota nigra, que pertence à família das Lamiaceae é conhecida cá pelo nome de marroio-negro, é usada para fins medicinais em vários locais do mundo e também nos Açores.

Yolanda Corsepius, no seu livro Plantas Medicinais dos Açores, editado em 1997, escreve que esta planta, que naturalmente pode ser encontrada junto a muros e sebes, tem as seguintes propriedades e indicações: “calmante-insónias, nervosismo; antiespasmódica; colerética.”

Maria Manuela Magalhães da Silva, num trabalho de fim de curso, apresentado na Universidade dos Açores em 1992, por seu lado escreve que o marroio-negro nos Açores para além de cultivado pode ser encontrado em depósitos pedregosos.

Quanto ao seu uso, Maria Manuela Silva diz que é “calmante nas perturbações de origem nervosa (depressão, enxaqueca, neurastenia, estados ansiosos e outras afeções nervosas ou psíquicas. É também um diaforético. Em aplicações externas, as compressas de marroio aliviam as dores reumatismais”.

Nos Açores. Também, existe o marroio-branco (Marrubium vulgare) que consta da lista das plantas usadas na medicina popular publicada no número 17 do Boletim da Comissão Reguladora dos cerais do Arquipélago dos Açores, relativo ao ano de 1953. De acordo com o autor do trabalho, Silvano Pereira, aquela planta também denominada marrolho aparecia sobretudo “nos matos e incultos”, sendo “a infusão das suas folhas…aconselhada para combater a icterícia”.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores,31850, 13 de junho de 2019, p.16)

sábado, 1 de junho de 2019

Lagoas do Congro e Nenúfares- Monumento Natural


Lagoas do Congro e Nenúfares- Monumento Natural

Em Fevereiro de 2000, os Amigos dos Açores- Associação Ecológica elaborou e remeteu à Direcção Regional do Ambiente uma proposta de Classificação das Lagoas do Congro e dos Nenúfares como Área Protegida. Passados mais de quatro anos, é altura de voltar a insistir para que aquela proposta não caia no esquecimento e, ao mesmo tempo, reafirmar todo o interesse em que, tal como aconteceu recentemente com a Caldeira Velha, aquela zona seja classificada como Monumento Natural.

A Lagoa do Congro deve o seu nome ao facto de, em tempos, ter pertencido, tal como uma vasta área de mato nas suas imediações, a André Gonçalves de Sampaio, “ O Congro”, sendo este cognome explicado por Gaspar Frutuoso da seguinte forma: “por em seu tempo ser o mais rico homem da terra, como dizem ser o congro, entre os peixes que se comem, o maior peixe do mar”. Por seu turno, a Lagoa dos Nenúfares deve o seu nome ao facto de, grande parte da sua extensão, estar coberta por nenúfares (Nymphae alba).

As lagoas do Congro e dos Nenúfares localizam-se no extremo oriental do Complexo Vulcânico do Fogo, a NNE de Vila Franca do Campo.

Sob o ponto de vista geológico, a Lagoa do Congro ocupa uma cratera de explosão do tipo maar, com cerca de 500 m de diâmetro e paredes fortemente entalhadas em basaltos e traquitos. A Lagoa dos Nenúfares, situada a escassos metros a Sudeste da Lagoa do Congro, tem a sua génese associada ao maar da Lagoa do Congro.

Actualmente, em redor das Lagoas do Congro e dos Nenúfares, embora possam ser observadas espécies da vegetação natural dos Açores, tais como o louro (Laurus azorica) o cedro do mato (Juniperus brevfolía) a Lysimachia azorica, predominam as espécies exóticas, como a: criptoméria (Cryptomeria japonica), a hortência (Hydrangea macrophylla), a azálea (Azalia indica), o eucalipto (Eucalyptus globulus), o incenso (Pittosporum undulatum) e a conteira (Hedychium gardneranum).

As espécies vegetais aquáticas mais comuns, para além da Nimphaea alba que é claramente dominante na Lagoa dos Nenúfares, são o Potamogeton polygonifolius e o Scirpus fluitans, para além da presença de Hypericum elodes e do Junco (Juncus efusus).

Dado que esta zona é densamente florestada, é frequente observarem-se diversas espécies de aves, das quais se destacam: a estrelinha (Regulus regulus azoricus), o milhafre (Buteo buteo rothschi¬idi), a alvéola (Motacilla patriciae cinerea) e o pombo torcaz (Columba palumbus azorica), o touto (Sylvia atricapilla), o pato bravo (Anas querquebula) e a garça-real (Ardea cinerea).

Actualmente, na Lagoa do Congro estão referenciadas duas espécies ictiológicas - Cyprinus sp. e Perca fluviatilis (perca do rio) e a rã (Rana perezi). Por seu turno, na Lagoa dos Nenúfares podem encontrar-se peixes vermelhos (Carassius auratus) e duas espécies de anfíbios - o tritão de crista (Triturus cristatus carnifex) e a rã (Rana perezi).

Em virtude da sua localização, o Monumento Natural das Lagoas do Congro e dos Nenúfares poderá funcionar como pólo dinamizador de diversas actividades na área do turismo, com destaque para uma rede de percursos pedestres e/ou equestres que terão como destino as Cumeeiras da Lagoa do Fogo/Pico da Vela, a Lagoa de São Brás, o Castelo/Branco, o Pico da Dona Guiomar/ Lagoinha do Areeiro, etc.

BIBLIOGRAFIA

CONSTÂNCIA, J., BRAGA, T., NUNES, J., MACHADO, E., SILVA,L., (1997). Lagoas e Lagoeiros da Ilha de São Miguel, Amigos dos Açores. Ponta Delgada.
NUNES, J.,(1998). Paisagens Vulcânicas dos Açores, Amigos dos Açores, Ponta Delgada.

Teófilo Braga

(Terra Nostra, 25 de junho de 2004)