sábado, 17 de agosto de 2019
ILHÉU DE VILA FRANCA- RESERVA OU MONUMENTO NATURAL?
ILHÉU DE VILA FRANCA- RESERVA OU MONUMENTO NATURAL?
O ilhéu de Vila Franca, o mais formoso ilhéu que há nas ilhas, no dizer de Gaspar Frutuoso, possui uma superfície de 61 640 m2 e fica situado em frente a Vila Franca do Campo, a sensivelmente 480 m da Ponta de São Pedro e a 1200 m do cais do Tagarete.
O ilhéu de Vila Franca é um cone vulcânico, resultante de uma erupção submarina em águas pouco profundas, constituído por tufos basálticos de cor amarelada ou acastanhada, e a bacia não é mais do que a cratera desse cone. De acordo com Forjaz (l988), o ilhéu de Vila Franca ter-se-á formado há cerca de 3000 anos.
A flora do ilhéu de Vila Franca apresenta várias espécies exóticas, sobretudo de origem africana e americana, entre elas podemos encontrar. a cana (Arundo donax), o incenso (Pittosporum undulatum), a tabúa (Phormium tenax), a piteira (Agave americana), o metrosidero (Metrosidero tomentosa), a vinha (Vitis labrusca e Vitis vinifera) e a lantana (Lantana camara), mas, ainda, conserva algumas espécies endémicas, como a urze (Erica azorica), a erva-leiteira (Euphorbia azorica), a figueira- brava (Senecio malvifolius), o louro (Laurus azorica), a canica (Holcus rigidus) e a Spergularia azorica, esta última integra a lista de Plantas Vasculares dos Açores em Perigo de Extinção, publicada em l984 por Erik Sjogren.
O ilhéu do ponto de vista faunístico apresenta uma grande variedade de aves, entre as quais destacamos: o pombo-da-rocha (Columba livia), o milhafre (Buteo buteo rothcildi),o estorninho (Sturnus vulgaris granti), o melro-negro (Turdus merula azorensis), a gaivota (Larus argentatus atlantis), o garajau comum (Sterna hirundo), o garajau rosado (Sterna dougallii), o cagarro (Calonectris diomedea borealis), o vira-pedras (Arenaria interpres) e a seixoeira (Calidris canutus).
Das aves marinhas, tudo leva a crer que apenas o cagarro é nidificante. Este é uma espécie que, embora não ameaçada, aparentemente encontra-se em regressão devido à destruição e degradação do habitat de nidificação nos Açores, região onde se encontra a maior concentração mundial de cagarros. De acordo com Hamer (l990), o Ilhéu de Vila Franca é excepcional no que toca à densidade e acessibilidade dos ninhos presentes e à diversidade de habitats usados para a sua localização.
Dado o grande interesse natural e paisagístico e em virtude do seu fácil e indiscriminado acesso e uso, tornando-o muito vulnerável, foi considerado por Decreto Legislativo Regional nº. 3/83/A, de 3 de Março, Reserva Natural.
O ilhéu de Vila Franca, tal como as restantes áreas protegidas dos Açores, com a publicação do Decreto Legislativo Regional nº 21/93/A de 23 de Dezembro, aguarda a sua reclassificação.
Na sequência da minha participação, como representante dos Amigos dos Açores, numa reunião promovida pela Direcção Regional do Ambiente, na cidade da Horta, em 30 de Outubro de 2001, e após a análise de uma Proposta de Plano de Ordenamento e Gestão do Ilhéu de Vila Franca do Campo, da responsabilidade da Secção Autónoma de Arquitectura Paisagística do Instituto Superior de Agronomia, venho, publicamente, manifestar algumas reservas quanto a uma eventual “desclassificação” daquela área protegida, transformando-a em Monumento Natural.
Por outro lado, para que se mantenha o actual estatuto de Reserva Natural é importante minimizar um dos principais problemas com que se debate o ilhéu, se não mesmo o maior, que é a elevada pressão humana durante a época balnear, a qual entra em conflito com o objectivo primeiro de uma Reserva que é a conservação da natureza. Assim, achamos que é urgente condicionar a presença humana fora da zona balnear e limitar o número de visitantes nesta, pois só assim se poderá oferecer um recreio de qualidade.
(Publicado no Açoriano Oriental, 11 de Março de 2002)
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