terça-feira, 31 de julho de 2018

Sobre o acesso à Lagoa do Fogo

O carvalho-brasileiro e o Eng. Artur do Canto Resendes

O carvalho-brasileiro e o Eng. Artur do Canto Resendes

A presença de uma árvore brasileira pouco comum na ilha de São Miguel, o carvalho-brasileiro (Roupala brasiliense), numa propriedade em Vila Franca do Campo, situada na rua Engenheiro do Canto Resendes, fez-me recordar uma sessão de homenagem ao “herói e mártir” vila-franquense a que assisti, em 1970, quando era aluno do Externato daquela localidade e a procurar uma explicação para a presença daquela espécie no local onde se encontra.

Neste texto, depois de fazer referência ao carvalho-brasileiro, recordarei a sessão a que assisti e depois mencionarei o que pude apurar acerca da figura ímpar do Engenheiro Artur do Canto Resendes.

Como o nome comum indica o carvalho-brasileiro é uma árvore de médio a grande porte, da família Proteaceae, originária do Brasil (Mato Grosso até Rio Grande do Sul), cuja madeira é de boa qualidade. É, também, usada pelos índios do Brasil no tratamento da febre e de problemas “no trato urinário”.

Sobre a sua chegada a São Miguel, tudo aponta que terá sido José do Canto o responsável pela sua introdução já que o carvalho-brasileiro está presente no seu jardim em Ponta Delgada, na Mata-Jardim José do Canto, nas Furnas, e no Jardim do Palácio de Santana, que recebia muitas plantas que eram enviadas do estrangeiro por José do Canto.

Outra pista que poderá reforçar o que afirmámos é a referência de José do Canto, em 1856, no catálogo intitulado “Enumeração das principais plantas existentes no meu jardim de Stª Ana”, onde são referidas 6 000 espécies de 1028 géneros, à espécie Roupala grata que ainda não nos foi possível confirmar se se trata de um sinónimo da atual Roupala brasiliensis.

A presença do carvalho-brasileiro em Vila Franca do Campo em terreno que terá pertencido à família do Engenheiro Artur do Canto Resendes, também se pode explicar por haver uma ligação entre as famílias deste e a de José do Canto.
No dia 3 de fevereiro de 1970, quando estava a frequentar o segundo ano do ciclo preparatório no Externato de Vila Franca do Campo, instituição criada a 3 de outubro de 1904, numa sala do antigo Convento de Santo André, pelo Dr. Urbano de Mendonça Dias, tive a oportunidade de assistir à homenagem ao Engenheiro Artur do Canto Resendes (1897-1945) ocorrida no 25º aniversário da sua morte, em Timor.

Artur do Canto Resendes, filho de Maria José do Canto e de Artur de Horta Resendes, nasceu em Vila Franca do Campo, a 7 de agosto de 1897. Depois de frequentar o ensino primário e os primeiros anos no Instituto de Vila Franca (mais tarde denominado Externato), frequentou o Liceu, em Ponta Delgada, e depois, em Coimbra, concluiu, em 18 de novembro de 1927, o curso de Engenheiro Geógrafo.

Estando em Timor, depois de ter sido nomeado, em 1937, adjunto da Missão Geográfica daquela província ultramarina, em plena Guerra Mundial assumiu o cargo de administrador do concelho de Dili, onde desenvolveu um notável trabalho humanitário em defesa das populações locais.

Terá sido preso pelos japoneses, depois de uma falsa denúncia, por parte do 1º cabo João de Sousa, de que Artur do Canto Resendes era “aliadófilo” e inimigo daqueles. Foi desterrado para a ilha de Alor, onde, vítima de maus tratos, com destaque para uma alimentação imprópria para consumo humano e falta de cuidados de saúde, acabou por morrer no cativeiro.

A título póstumo, o herói e mártir vila-franquense foi condecorado a nível nacional com o grau de Oficial da Ordem da Torre e Espada.

Em sua memória foram erigidos dois monumentos, um em Vila Franca do Campo e outro em Díli. Em Timor, o busto de bronze localizado na Avenida de Portugal, foi inaugurado em 1952 e o existente na sua terra natal, datado de 1970, da autoria do escultor Numídico Bessone está localizado na rua onde Artur do Canto Resendes nasceu.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores 31585, 31 de julho de 2018, p. 16)

sábado, 21 de julho de 2018